Apesar da constante associação da Cirurgia Plástica com os tratamentos estéticos, há avanços e procedimentos dessa área que possibilitam uma recuperação de pacientes que apresentaram feridas e câncer mamário . Entre os avanços que marcaram o segmento na última década está o uso das matrizes dérmicas acelulares (ou ADM, sigla em inglês para Acellular Dermal Matrix) que possibilitam uma verdadeira regeneração e melhor cicatrização destes pacientes, especialmente naqueles casos em que há perda de tecidos ou que já foram tratados por técnicas convencionais e tiveram mal resultado ou até complicações graves, possibilitando a revisão e reconstrução das áreas desejadas.
O que são as Matrizes Dérmicas Acelulares ?
A cicatrização e boa recuperação do paciente sempre foi uma preocupação da medicina . Assim como é sabido que o restabelecimento da saúde influencia diretamente a auto estima e confiança dos pacientes. Não é à toa que durante a História diferentes emplastros foram utilizados para ajudar nesse objetivo e na atualidade a técnica cirúrgica permite que algumas doenças, outrora sem solução, alcancem um resultado muito satisfatório, com destaque das matrizes dérmicas acelulares (ADM), que possibilitaram a reposição de tecidos e ajudaram a reparar as áreas que foram lesionadas.
De maneira geral, as matrizes dérmicas acelulares (ADM) são produtos de biotecnologia, desenvolvidos a partir de pesquisas avançadas no campo da medicina regenerativa e tratamento de lesões complexas de várias etiologias. Existem matrizes constituídas de uma única camada e outras que apresentam duas ou mais camadas, estas são chamadas de matrizes compostas. Estas matrizes podem ser de origem animal ou até de tecido humano, felizmente a tecnologia avançou até o ponto que as matrizes dérmicas acelulares (ADM) são aplicadas durante os procedimentos cirúrgicos em áreas em que ocorreu perda de tecido, permitindo uma regeneração do tecido remanescente, a sua re vascularização e também dando suporte a região, com baixo risco de eventuais complicações. Com o passar dos meses, pela cobertura da região desejada, as matrizes dérmicas acelulares (ADM) tem um comportamento biológico e função similares aos tecidos recuperados.
Pelo uso freqüente, as matrizes dérmicas acelulares (ADM) ficaram conhecidas pela sua aplicação em seqüelas pós-queimaduras, feridas profundas que apresentam dificuldades na cicatrização, reparação de parede abdominal (por exemplo no tratamento das hérnias recidivadas) e, especialmente, como uma importante “ferramenta” no arsenal dos cirurgiões que realizam as reconstruções mamárias ( imediatas e também nas cirurgias mamárias de resgate , quando a técnica inicial não se mostrou satisfatória ou teve alguma complicação grave). Certamente, as matrizes dérmicas acelulares (ADM) constituem mais um recurso que os cirurgiões plásticos dispõem para tratar os seus pacientes e a sua indicação deve ser individualizada de acordo com a necessidade do paciente e da experiência do médico nesta técnica .
Felizmente, com o uso destes dispositivos, aumentamos a nossa capacidade em atender aos pacientes que necessitam reposição de tecidos, principalmente na reconstrução mamária após as mastectomias e nas reparações da parede abdominal. Desta forma , garantindo uma melhor regeneração e recuperação das funções habituais dos pacientes, especialmente para aqueles que necessitarão ou já realizaram múltiplos e complexos procedimentos cirúrgicos, porém com resultados limitados ou com complicações (por exemplo, nas pacientes que sofreram radioterapia após uma reconstrução mamaria convencional com prótese e apresentam uma contratura capsular severa e sintomática) .
Em tempo, é sempre necessário a lembrança que todo método ou dispositivo médico está sujeito a eventuais complicações, no caso das matrizes dérmicas acelulares (ADM), o acúmulo de líquidos na região operada (chamado “seroma”) e a necessidade do uso de drenos de aspiração por um certo período deverão ser explicadas pelo médico de forma clara e objetiva, verbalmente e através de termo de consentimento pré operatório, antes da realização dos procedimentos. Esta regra atende ao preceito ético do exercício da boa medicina e também é uma exigência médico legal que deve atender a todo e qualquer procedimento cirúrgico com ou sem matriz .
Uso de matrizes em cirurgias plásticas
Além do uso na cirurgia plástica, as matrizes dérmicas acelulares ( ADM ),como por exemplo, o Strattice™ ( LifeCell Corporation –an Acelity Company ) já são utilizadas em diferentes procedimentos cirúrgicos e finalidades, com resultados satisfatórios e estudos que comprovam a sua eficácia como uma valiosa alternativa na área da cirurgia reparadora. Especialmente em casos em que as mamas das pacientes sofreram intervenções múltiplas, sejam reparadoras, sejam estéticas e infelizmente não alcançaram um resultado adequado; nestes casos , o uso de matrizes dérmicas acelulares (ADM ) podem oferecer o suporte necessário para determinadas técnicas reconstrutivas, permitindo, por exemplo, o “resgate” de uma reconstrução com implante mamário que evoluiu mal.
Há também o uso de matrizes dérmicas ,como o Strattice™, para procedimentos de revisão de cirurgias estéticas das mamas, por exemplo, na tentativa de proporcionar a correção de procedimentos cirúrgicos anteriores, que podem apresentar um “enrugamento” ou “ondulação” da pele na área do implante mamário, desvio do implante, má posição das próteses, má posição do sulco infra-mamário ou mesmo a insatisfação da paciente com o resultado final da cirurgia. Para correção desses problemas decorrentes de outras cirurgias estéticas, a matriz dérmica acelular poderá ser uma alternativa para auxiliar na busca do resultado desejado, oferecendo algum suporte ao tecido que esteja fragilizado pelo procedimento inicialmente realizado.
Dessa maneira, para auxiliar com eventuais dúvidas sobre o uso das matrizes dérmicas acelulares (ADM )ou mesmo sobre a cirurgia mamária como um todo , é indispensável buscar a orientação e atendimento de um cirurgião que esteja treinado nesta técnica , seja membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e reconhecido pelo CFM (Conselho Federal de Medicina), com quem poderá discutir as melhores opções para seu caso e necessidades.
Dr. Cássio Amancio
Cirurgião Plástico
CRM 74381