Os avanços da cirurgia plástica para o tratamento de pacientes com queimaduras.

Apesar de ser constantemente associado com os benefícios estéticos, a cirurgia plástica também apresenta uma grande evolução na recuperação de feridas complexas e queimaduras, lesões que normalmente necessitam da atuação de uma equipe multidisciplinar para que o paciente tenha a melhor recuperação e qualidade de vida.

Todas as queimaduras necessitam de cirurgia plástica?

Muito além da exposição a objetos superaquecidos ou fogo, as queimaduras também podem ser causadas por incidentes com eletricidade, escaldamentos, produtos químicos, fricção, radiação e situações de clima extremos, seja com a exposição solar ou ao frio intenso. Quando queimada, a pele perde sua função primordial de proteção e hidratação, o que aumenta ainda mais o risco de infecções e o comprometimento das estruturas físicas. É por isso que, de certa maneira, o tratamento de queimados segue através dos séculos com diferentes processos e tecnologias, uma vez que essas lesões, quando profundas ou extensas, podem colocar em risco a vida dos pacientes.

Nem toda queimadura, entretanto, necessita dos cuidados de uma equipe multidisciplinar, já que há diferentes classificações para elas. De maneira geral, a classificação é realizada pela extensão da lesão, profundidade da queimadura e o agente responsável. Queimaduras de primeiro grau ou superficiais são normalmente causadas pela exposição solar intensa e deixam a pele avermelhada ,sensível e irritada, enquanto as de segundo grau ( ou de espessura parcial ) são causadas na maioria das vezes por acidentes domésticos,por exemplo nos escaldamentos por líquidos aquecidos , com a presença de bolhas e muita dor . Já as queimaduras de terceiro grau são as mais profundas, danificam a espessura total da pele , podendo atingir outras estruturas (inclusive gordura, músculos e ossos ) e sempre necessitam de tratamento cirúrgico, com internação hospitalar.

Nesse sentido, é importante orientar que a avaliação da queimadura deverá ser realizada por um médico e mesmo casos aparentemente simples no início poderão apresentar complicações dependendo da extensão da lesão e da sua evolução . Especialmente em acidentes domésticos, é sempre indicado realizar o cuidado inicial lavando o local com água fria e corrente e evitar tratamentos caseiros, como pasta de dente ou outros curativos caseiros sem a orientação médica. Procurar a orientação de um profissional de saúde será essencial para a correta cicatrização e recuperação.

 

Quais os processos utilizados no tratamento de queimaduras?

O tratamento da queimadura depende, obviamente, da extensão e classificação da lesão. Os tecidos que sofrem queimaduras apresentam células mortas, que podem precisar de um desbridamento, ou seja a remoção cirúrgica desses tecidos lesionados, para redução do número de microrganismos e substâncias que prejudicam a cicatrização e trariam ainda mais sequelas. Além disso, os enxertos cutâneos podem ser uma indicação para o fechamento e recuperação das áreas atingidas, devendo, sempre que possível, ser utilizado o tecido do próprio paciente. Além disso, nas queimaduras especiais (elétricas ou químicas, por exemplo) e nas de maior extensão (acima de 25 % de superfície corpórea, nos casos de queimaduras de segundo grau e em pacientes adultos) é imperativo a internação em centros especializados para um tratamento adequado.

Nos casos que mereçam internação hospitalar, é importante indicar que queimaduras que necessitam de desbridamento e enxertos sejam operadas tão logo o paciente tenha condições clínicas adequadas para realizar os procedimentos. Em tempo, o atendimento médico especializado deve ser oferecido o mais precocemente possível, uma vez que os pacientes que apresentam áreas extensas de queimaduras podem evoluir com complicações graves como: insuficiência renal, insuficiência respiratória (se houver lesão inalatória associada), arritmias cardíacas e infecções generalizadas, entre outras.

Dois dos avanços deste tratamento foram as matrizes dérmicas e a terapia de pressão negativa, esta associação de tecnologias tem sido cada vez mais adotada em casos de feridas complexas, como queimaduras de terceiro grau . Com os avanços tecnológicos, as matrizes dérmicas apresentam um comportamento biológico semelhante aos tecidos do paciente e apresentam uma integração nas áreas em que houve a lesão da queimadura, permitindo uma melhor recuperação local e com baixo risco de sequelas futuras.

Ano a ano, as indústrias que se dedicam ao tratamento de feridas e medicina regenerativa, investem substanciais recursos na pesquisa e desenvolvimento de diferentes coberturas ou curativos para melhor atender a estes pacientes, minimizar o seu sofrimento e promover uma melhor condição local para cicatrização dos tecidos acometidos. O curativo ou cobertura “ideal” deveria ter algumas características: ser atraumático (não infringir dor ao paciente), fácil aplicação e retirada, deveria permitir trocas menos frequentes, deveria conter agentes microbianos (diminuindo o risco de infecção), deveria manter uma umidade adequada para o processo de reparação tecidual retirando o excedente de secreções que ficam nas feridas, entre outras qualidades desejáveis.

As coberturas mais utilizadas procuram oferecer as qualidades acima listadas explorando diferentes materiais e tecnologias, no entanto, percebemos uma tendência na associação da prata iônica ou da prata nanocristalina nestes produtos, uma vez que este elemento apresenta uma potente ação antimicrobiana local.Também notamos o uso de materiais que aderem suavemente a pele permitindo uma troca menos dolorosa e sem remover os novos tecidos em formação , como por exemplo, coberturas com silicone em sua estrutura.

Apesar de todos os novos recursos empregados na cirurgia plástica para queimados, a evolução tardia de cada caso dependerá em parte da cicatrização do paciente, uma vez que a escassez de pele saudável poderá gerar cicatrizes disfuncionais e inestéticas, comprometendo o resultado final. Infelizmente, cicatrizes ou diferenças na tonalidade da pele ( “as manchas” ) serão parte do resultado final destes acidentes, sendo o primordial a recuperação da saúde, da função das áreas acometidas e da qualidade de vida do paciente. É necessário, portanto, contar com a orientação de um médico especialista que deverá apresentar as possibilidades de tratamento e uma visão realista dos possíveis resultados tardios destas lesões.

O tratamento de queimaduras deve ser acompanhado por uma equipe de saúde multiprofissional reconhecida pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) e pelas suas respectivas Sociedades de Especialidade, que deverá avaliar cada caso antes de determinar qualquer linha de tratamento. Proporcionando um acompanhamento desde o momento da internação até a completa reabilitação do paciente.

 

Dr. Cássio Amancio

Cirurgião Plástico

CRM 74381

Plástica Queimadura SMCC